Fátima Valente*
Da ponte, com as objectivas apontadas para o rio Katuma, em pleno Parque Nacional de Katavi, o grupo regista os movimentos e sons dos hipopótamos mergulhados nas águas lamacentas. Estes brincam aos submarinos e, tanto emergem da água como repuxos, como alimentam desavenças entre si, gerando brigas ao estilo National Geographic. Tudo isto sob o olhar impávido e atento dos crocodilos, que não temem em fazer-se à água, enquanto alguns “tecelões da aldeia” (pássaros) fazem ninho nas árvores das margens e os sujeitam à aprovação das fêmeas, sob pena de os terem de começar de novo. Mais adiante, girafas masai atravessam em galope gracioso à frente do jipe para, em terreno seguro, fitarem a curiosidade humana, enquanto manadas de zebras e impalas aumentam a passada perante a aproximação dos turistas. Durante o safari até ao acampamento de luxo - Palahala Camp -, (cerca de uma hora sem contar com o tempo do pequenique do almoço, de preferência debaixo de uma acácia ou outra árvore centenária), há ainda tempo para encontros imediatos com bandos de babuínos e para medir território com os bufálos especados na linha do horizonte. Pelo meio, fica a memória de um elefante perdido dos seus, e a sensação de sermos os últimos a ver um certo waterbuck (antílope) com vida.
As cenas da vida selvagem ilustram as emoções possíveis no Parque Nacional de Katavi, em Fevereiro, o último mês da estação seca, que vai de Maio a Outubro e de meados de Dezembro a Fevereiro. Janeiro/ Fevereiro é a época ideal para quem quer assistir às migrações, por norma turistas mais experimentados em safaris e já com outros parques no currículo, tanto na Tanzânia (o Serengeti é o maior de todos), como nos vizinhos Quénia e África do Sul. Mas para quem vai decidido a ter uma “cat experience” e não quer passar sem ver leões, o melhor é reservar a visita a Katavi de Julho a Outubro. Setembro é também uma boa altura para ver crocodilos e hipopótamos, já que na estação quente, o abaixamento do nível das águas faz com que se concentrem em áreas mais reduzidas. Ainda assim, a água é um elemento abundante no parque, pois além do Rio Katuma, o parque tem dois lagos - o Katavi, a Norte, e o Chada a Sul -, o que faz com que atraia uma considerável soma de aves exóticas (cerca de 400 espécies), a somar aos 35 espécies de mamíferos que ali habitam.
Katavi é o terceiro maior parque da Tanzânia (2,253 km²) e segundo reza a lenda foi buscar o nome a um grande caçador “Katabi”, que até hoje terá o seu espírito numa árvore. Este parque nacional foi criado em 1974 e apesar de continuar a ser um dos “segredos mais bem escondidos de África”, tem crescido bastante nas últimas duas décadas, ocupando mais do dobro da área inicial. Mas ao contrário de outros, densamente povoados de turistas, Katavi permite uma exploração sossegada, sem grande corrupio de jipes a disputar o ângulo mais próximo dos bichos.
A exclusividade é o grande argumento de venda de Katavi, que em 2008 contou menos de 2000 visitantes, quando comparados com os 200 mil do Serengeti. Aliás, o pouco tráfego de Katavi faz com que seja possível sair dos trilhos, em busca dos animais, algo bastante mais condicionado noutros parques.
Da ponte, com as objectivas apontadas para o rio Katuma, em pleno Parque Nacional de Katavi, o grupo regista os movimentos e sons dos hipopótamos mergulhados nas águas lamacentas. Estes brincam aos submarinos e, tanto emergem da água como repuxos, como alimentam desavenças entre si, gerando brigas ao estilo National Geographic. Tudo isto sob o olhar impávido e atento dos crocodilos, que não temem em fazer-se à água, enquanto alguns “tecelões da aldeia” (pássaros) fazem ninho nas árvores das margens e os sujeitam à aprovação das fêmeas, sob pena de os terem de começar de novo. Mais adiante, girafas masai atravessam em galope gracioso à frente do jipe para, em terreno seguro, fitarem a curiosidade humana, enquanto manadas de zebras e impalas aumentam a passada perante a aproximação dos turistas. Durante o safari até ao acampamento de luxo - Palahala Camp -, (cerca de uma hora sem contar com o tempo do pequenique do almoço, de preferência debaixo de uma acácia ou outra árvore centenária), há ainda tempo para encontros imediatos com bandos de babuínos e para medir território com os bufálos especados na linha do horizonte. Pelo meio, fica a memória de um elefante perdido dos seus, e a sensação de sermos os últimos a ver um certo waterbuck (antílope) com vida.
As cenas da vida selvagem ilustram as emoções possíveis no Parque Nacional de Katavi, em Fevereiro, o último mês da estação seca, que vai de Maio a Outubro e de meados de Dezembro a Fevereiro. Janeiro/ Fevereiro é a época ideal para quem quer assistir às migrações, por norma turistas mais experimentados em safaris e já com outros parques no currículo, tanto na Tanzânia (o Serengeti é o maior de todos), como nos vizinhos Quénia e África do Sul. Mas para quem vai decidido a ter uma “cat experience” e não quer passar sem ver leões, o melhor é reservar a visita a Katavi de Julho a Outubro. Setembro é também uma boa altura para ver crocodilos e hipopótamos, já que na estação quente, o abaixamento do nível das águas faz com que se concentrem em áreas mais reduzidas. Ainda assim, a água é um elemento abundante no parque, pois além do Rio Katuma, o parque tem dois lagos - o Katavi, a Norte, e o Chada a Sul -, o que faz com que atraia uma considerável soma de aves exóticas (cerca de 400 espécies), a somar aos 35 espécies de mamíferos que ali habitam.
Katavi é o terceiro maior parque da Tanzânia (2,253 km²) e segundo reza a lenda foi buscar o nome a um grande caçador “Katabi”, que até hoje terá o seu espírito numa árvore. Este parque nacional foi criado em 1974 e apesar de continuar a ser um dos “segredos mais bem escondidos de África”, tem crescido bastante nas últimas duas décadas, ocupando mais do dobro da área inicial. Mas ao contrário de outros, densamente povoados de turistas, Katavi permite uma exploração sossegada, sem grande corrupio de jipes a disputar o ângulo mais próximo dos bichos.
A exclusividade é o grande argumento de venda de Katavi, que em 2008 contou menos de 2000 visitantes, quando comparados com os 200 mil do Serengeti. Aliás, o pouco tráfego de Katavi faz com que seja possível sair dos trilhos, em busca dos animais, algo bastante mais condicionado noutros parques.
Exclusividade e luxo
O acesso a Katavi não é dos mais imediatos, mas também é isso que o torna mais exclusivo. A chegada por via terrestre é possível, mas não a melhor opção já que demoraria dias. A mais acertada são mesmo os charters privados, programados de acordo com a conveniência e horários dos grupos. Do Aeroporto de Arusha, o voo doméstico demora uma média de três horas, incluindo paragem para abastecimento de combustível no Aeroporto de Tabora, quando a lotação do avião (12 lugares) vai quase esgotada.
O dia começa cedo, com o pequeno-almoço no Arusha Hotel a antecipar duas viagens, primeiro de autocarro, da cidade até ao aeroporto com o mesmo nome, depois num Cessna 208B da Zantas Air até ao mato. À espera do grupo, na Ikuu Airstrip (pista de aterragem na savana, perto do Posto de Rangers de Ikuu), estava Tom Litgow, director da empresa de safaris Firelight Expeditions e do Palahala Camp, assim como de Lupita, a ilha que serviria mais tarde de descanso aos três dias no mato.
O Palahala Camp, com cerca de um hectar em campo aberto, é um dos quatro alojamentos do Parque de Katavi, que no total tem capacidade para 72 pessoas. Com oito tendas e capacidade para 16 pessoas, é mais selvagem do que alguns lodges noutros parques mais conhecidos, mas igualmente confortável. Na verdade, tem tudo o que um turista de safari pode esperar no mato: luz de gerador e tomadas a pedido (apenas no ‘backstage’ do acampamento); banho a horas certas para não perder a água quente (pré-aquecida num bidão); café da manhã em room service, a anteceder o pequeno-almoço em grupo; e serviço de escolta, de e para a tenda, antes e depois do jantar, não vá um animal mais afoito querer vir atrapalhar o convívio.
No Palahala, a imaginação é o limite e as surpresas uma constante, podendo variar entre conduzir os turistas a um pôr-de-sol com “bar aberto” em pleno rio - remate perfeito de um safari a pé escoltado por rangers -, a pô-los a cozer o próprio pão do jantar. A graça está em entrar na brincadeira, mesmo quando o resultado varia entre “o cru e o quase sempre queimado”.
Lupita, o descanso merecido
Não há mato que sempre dure nem savana que nunca acabe. A expressão não é das mais felizes, mas serve para ilustrar o bem que soube chegar a Lupita, uma ilha transformada em lodge em pleno Lago Tanganica, o segundo maior de África, partilhado por uns quantos países (Tanzânia, Congo, Burundi e Zâmbia) e, já agora, uma raridade da natureza, pois os seus 1400 metros de fundo e localização tropical, fazem das águas “fósseis” ou “sem oxigénio”. Em vez de salgada a água do lago é doce, e potável, ao ponto de poder beber-se.
Para Tom Litgow, aventureiro que se deixou contagiar pelo turismo há alguns anos, “foi amor à primeira vista”. O empresário já acampava nas margens do lago há muitos anos até que certa vez sobrevoou a ilha de helicóptero, tirou muitas fotos, e dali até pôr o projecto de pé (idealizado em conjunto com a mulher, Belinda), foi só o tempo de arranjar investidor.
O Lupita Island Lake Tanganyka, com 13 bungallows, abriu em Setembro de 2007. O projecto tem particularidades, como o de dar emprego aos locais e apoiar na construção de escolas nas povoações mais próximas, como Kipili, onde a pesca é a actividade de subsistência dominante. Aliás, segundo informação do empresário, este terá investido três vezes mais (não se sabe ao certo quanto) em Lupita e Katavi do que o Produto Nacional Bruto da região (Rukwa).
A chegada a Lupita faz-se de lancha, após aterragem em Kipili. O serviço no lodge é pautado por um luxo ainda mais extremo do que o de Katavi, com direito a um mordomo por bungallow. E ao contrário das tendas da savana, estes já são de pedra e madeira, embora as divisões primem pela ausência de portas e janelas e número de paredes incerto. A ideia (conseguida) é permitir uma vista desimpedida sobre a varanda (onde ficam a banheira e o tanque individual), o arvoredo cerrado e o Lago Tanganica.
Nos quartos, as boas-vindas são dadas por uma garrafa de vinho tinto e um xerez acolhedor, bastante útil nas manhãs de chuva tropical, enquanto se faz uso das colunas de Ipod à disposição dos hóspedes. Os caprichos servem-se à medida, com possibilidade de refeição nos chalés, sempre que o propósito da estada é uma lua-de-mel, ou simplesmente porque apetece.
Spa, ginásio e piscina exterior são outros mimos comuns no Lupita Island Lake Tanganyka. O terreno é escarpado e as distâncias entre bungallows e áreas comuns grandes, mas as mesmas podem ser encurtadas com recurso aos buggies ou com a perseverança de uma caminhada.
Das actividades possíveis constam ainda programas de caiaque ou snorkeling no lago, ou uma volta à ilha no Winsor, o barco recentemente adquirido pela família, que acumulou histórias e peripécias no transporte para a ilha. Já em terra firme, as opções variam entre os passeios de bicicleta e a pé, e a observação das fauna e flora, com respectiva explicação por um conhecedor local. Fica ainda a informação que as plantas medicinais são em abundância e que, segundo os antigos, tanto podem tratar problemas de gengivas como substituir o viagra. Perante a indecisão, o turista pode também optar pelas leituras na biblioteca (alimentada pelo sistema de troca de livros entre turistas) ou simplesmente deixar-se ficar pelo bar.
Da ilha de Lupita, o grupo seguiu viagem para Zanzibar. Mas as aventuras na ilha das especiarias ficam para uma próxima edição.
* O título é a letra de uma música em suaíli. A tradução para o português é: “Olá, Olá senhor. Não há problema”.
** A jornalista viajou a convite da Across e da Air France/ KLM
Tanzânia
País de contrastes
Pensa-se na Tanzânia e de imediato vem-nos à memória o Monte Kilimanjaro, a ideia do berço da humanidade e, claro, os safaris, a vida selvagem e a natureza no seu estado puro, onde o cartão de visita são os big five: leão, leopardo, elefante, búfalo e rinoceronte.
Antes de se fazer a viagem, a Tanzânia é isto. No regresso, é isto e muito mais. É o país da diversidade étnica e cultural, com 127 tribos (a Masai a mais conhecida de todas, e a maior com menos de dois milhões de pessoas); a nação jovem, que no século XX trocou o jugo da Alemanha pelo da Inglaterra e que só em 1964 conheceu a independência, quando da união de Tanganica e Zanzibar.
Tanzânia é sinónimo de terra que sabe receber, onde as gentes, locais e de fora - alguns vieram das escolas de hotelaria do Quénia (de Nairobi, por exemplo) -, não poupam nos sorrisos nem nos cumprimentos (Jambo), e onde se dá o devido valor aos prazeres simples da vida como um pôr-do-sol ou uma noite estrelada igualmente intensa.
TravelTips
Guia prático
O inglês e o suaíli são as línguas oficiais, e o xelim da Tanzânia a moeda local (1 € é igual a 85 xelims). A entrada no país implica passaporte válido por seis meses e visto (obtido à chegada ao aeroporto por 50 dólares). Na preparação da viagem é obrigatória a vacina da febre amarela e aconselhável a profilaxia da malária.
Aconselha-se roupa prática e leve, e calçado fechado e confortável.
No Norte da Tanzânia, perto da Garganta de Olduvai, foram descobertos fósseis humanos com mais de dois milhões de anos, sendo a área conhecida como berço da humanidade. O Monte Kilimanjaro - a montanha mais alta de África, com 5895 metros de altitude - e o Monte Meru (com 4.565 metros), são os dois grandes cartões de visita.
O país tem vindo a emergir para o Turismo (actualmente é a segunda actividade económica), e o número de visitantes nos parques tem aumentado. Mas o país não está imune à crise económica, e o presidente Jakaya Kikwete já avançou (na última conferência do FMI em Dar Es Salem) que as entradas de turistas podem decrescer até 18%.
Arusha é a terceira cidade mais populosa da Tanzânia, a seguir a Dar es Salam e à capital administrativa (Dodoma), e destaca-se pela indústria mineira e agricultura (de que são exemplo as plantações de milho e café) subsidiada pelos programas de ajuda internacional. A cidade em si não tem grande interesse turístico, à parte ter alguma hotelaria nova e de referência, e ser o ponto de distribuição de safaris para os parques e reservas do Norte da Tanzânia. Sede do Tribunal Penal Internacional, Arusha tem feito a actualidade internacional dos últimos tempos, desde que está a decorrer o julgamento do genocídio no Ruanda.
Não há voos directos para a Tanzânia, fazendo-se sempre escala numa capital europeia, nomeadamente Amesterdão. É habitual fazer-se a viagem via Nairobi (Quénia) com destino ao Aeroporto Internacional de Kilimanjaro. A Air France/ KLM tem voos diários, fazendo a ligação em code-share com a Kenyan Airways e a Precison Air (nos voos internos).
*A jornalista viajou a convite da Across e Air France
** O título é a letra de uma música em suaíli. A tradução em português é: "Olá, Olá senhor. Não há problema".
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