Monday, May 11, 2009

Deus é alagoano?


Ruben Obadia*

O estado de Alagoas é uma das pérolas mais bem guardadas do Nordeste brasileiro. Repleta de encantos, virgem nas paisagens, cosmopolita à escala humana e onde o azul turquesa domina o mar

Em 2003 Carlos Diegues realizou o filme “Deus é brasileiro”, numa adaptação da obra literária de João Ubaldo Ribeiro. Neste, o conhecido António Fagundes encarna a personagem de Deus, cansado dos erros dos homens, que decide tirar férias. Mais do que a história, o que sobressai do filme é a paisagem calcorreada por Deus. O cenário é o Estado de Alagoas, um dos mais desconhecidos destinos do Nordeste para o turista português.
É difícil saber como começar. Se entrando pelo Norte, via Pernambuco, parando nas fantásticas piscinas naturais de Maragogi, se pelo Sul, atravessando o Rio São Francisco de balsa e chegando ao simpático município de Piaçabuçu, através de Sergipe.
Talvez o ideal seja começar pela capital do estado, Maceió. Aqui é um outro Nordeste, especial, moderno e cosmopolita sem perder uma escala humana. O que logo sobressai aos olhos do visitante é a cor do mar, ora azul-turquesa ora verde-esmeralda, ou simplesmente num casamento perfeito e harmonioso entre os dois. Por alguma razão Alagoas já ganhou o epíteto de “Caraíbas do Brasil”. É fácil perceber o porquê. Outro dos cognomes que Maceió ganhou foi de “Cidade das Águas”. Também se entende facilmente, já que possui uma das melhores praias urbanas de todo o Nordeste, com mais de 140 piscinas naturais e 50 lagoas. Um dos atractivos da cidade está mesmo nas piscinas naturais de Pajuçara, acerca de dois quilómetros da costa. Quando a maré baixa é ver as jangadas a zarparem repletas de turistas, onde não falta a cerveja, a caipirinha e, claro, um mergulho junto dos coloridos peixes que se aglomeram no local de destino.
Se a opção é ficar uns dias por Maceió então o ‘spot’ é a Avenida Álvaro Otacílio, que serpenteia a orla costeira. O calçadão convida a passeios de quilómetros e sente-se o pulsar dos habitantes da cidade. E para ajudar os pouco entusiastas por grandes caminhadas – como o autor destas linhas – há sempre um quiosque de praia a cada cem metros onde a cerveja parece adquirir um sabor especial.
Ao nível do alojamento não se pode dizer que a cidade esteja bem servida. O Ritz Lagoa da Anta Urban Resort é provavelmente a melhor grande unidade da capital, mas se vier em família com filhos o Hotel Jatíuca é uma aposta certeira, já que estando no centro da cidade surge implantado nuns invejáveis 62 mil metros quadrados de espaços verdes.
Já ao nível da restauração, Maceió ombreia com os melhores destinos gastronómicos do Brasil. O mineiro Divina Gula é incontornável e o Le Corbu aposta numa cozinha mais requintada e num ambiente mais seleccionado. Já o Wanchako é uma verdadeira instituição mundial. Seriam necessários vários dias (e linhas) para lhe prestar justiça. Para começar, este restaurante peruano de fusão tem uma decoração que até dá vontade de passar uma hora no ‘banheiro’ apenas para apreciar os quadros, a luz, o cheiro. Por aqui já dá para ter a ideia de estarmos perante um local de peregrinação. Depois há a carta, e que carta! Vale até a viagem, vai uma aposta?
Mas deixemos o pecado da gula para trás. O ideal agora é dar uma caminhada pelo calçadão e parar no Lopana, o melhor bar de praia de Maceió. ~

Praias para todos os gostos
Voltemos às praias da cidade. Se para os lados do Ritz Lagoa o mar surge picado com mais ondulação, a fazer lembrar as saudades do nosso Atlântico, à medida que se percorre a Álvaro Otacílio o oceano vai se tornado uma lagoa tranquila e de água tépida.
Mas a praia da moda dá pelo nome de Praia do Francês e dista apenas 20 kms da capital alagoana. Diremos que tem tudo aquilo que faz fugir o europeu… da Europa. Restaurantes e bares amontoados, dezenas e dezenas de comerciantes na praia, barulhentos jet-ski, espreguiçadeiras coladas com a dos vizinhos e… milhares de veraneantes, num ensurdecedor ruído a convidar para outras paragens. O destino é a idílica Praia do Gunga, eleita como uma das melhores praias do Nodeste. No entanto, há duas praias do Gunga bem distintas. Mais próximo da Ponta do Gunga, surge a praia cosmopolita , com chuveiros e barraquinhas. Mas é no lado direito, lá depois da curva, que se vislumbra a essência que celebrizou o Gunga: areal quase virgem, salteado por coqueiros, a beijar um mar tranquilo, sobre o qual se espraiam típicos barcos de madeira, como se ali tivessem desde sempre. O pôr-do-sol aqui é a maneira da Natureza gritar que afinal, Deus é mesmo brasileiro. E já que falamos na obra de Deus, o que dizer da Praia de Ipioca e do seu restaurante Hibiscus? Se é descanso que procura, eis o seu Paraíso. Aliás, um placard à entrada da praia dá o mote: “Aqui vivemos felizes”! Não duvidamos. O restaurante Hibiscus surge neste contexto de difícil categorização. É certo que é um belíssimo restaurante mas, mais do que isso, é um local de puro ócio. Já a praia é praticamente virgem, a convidar para um daqueles memoráveis dias de praia que entram directo para o baú das boas recordações.
Um passeio de barco, partindo da inexplorada Barra de São Miguel, no Trimarã Caio Mar VIII é outra das experiências a não perder, com a garantia de ganhar lastro à medida que o mestre Caio desfila os pratos da gastronomia alagoana.
Outra visita a não perder é à Praia do Carro Quebrado. A viagem para lá chegar já é em si uma aventura digna de registo e lá chegados somos surpreendidos por falésias de areias coloridas.
A sensação com que se sai de Alagoas é que este é um estado guardado em segredo pelos brasileiros que o querem só para eles. É justo. Se tivesse praias e paisagens como aquelas também eu passava a ser egoísta.

* O jornalista viajou a convite do novo operador R2F - Ready 2 Fly