Thursday, April 16, 2009

Baja California Sul, o deserto improvável


Ruben Obadia


Baixa Califórnia Sul é um destino desconhecido dos portugueses, mas não lhe faltam argumentos para se assumir como uma das mais fortes apostas do turismo mexicano

Confesso a minha ignorância. Até ter recebido o convite do Turismo do México para visitar a “Baja Califórnia Sur” nunca tal tinha ouvido falar. Na Internet vários ‘sítios’ falavam do destino com paixão e entusiasmo, não poupando em adjectivos para o qualificar como uma das mais recentes pérolas do turismo mundial. Não me deixei convencer e decidi ver com os próprios olhos essa pérola que tanto falam e que nós, portugueses, tão pouco conhecemos.
Primeiro dado a reter. Qualquer semelhança entre a Califórnia dos Estados Unidos e a do México fica-se apenas pelo nome. O estado da Baja Califórnia Sul fica situado numa enorme península na região noroeste do México. Tem como fronteiras a Norte o estado da Baja Califórnia Norte, a Oeste e Sul o Oceano Pacífico e a Este o Mar de Cortéz. A capital é La Paz, junto ao Golfo da Califórnia, e é daqui que podemos partir à descoberta de Peurto Balandra, uma lagoa que conta com oito baías mais pequenas, e onde é possível encontrar El Hongo (cogumelo), uma formação rochosa que se tornou no símbolo da cidade. A Ilha do Espírito Santo e a Ilha Partida merecem também uma visita.


É na Baja Califórnia Sul que nos perdemos de encantos pela Natureza, com uma biosfera única que atinge o seu esplendor no El Vizcaíno, a zona protegida mais extensa da América Latina, ocupando uma área de 25 mil metros quadrados. É aqui que encontramos a Lagoa de Santo Ignacio e a Lagoa Ojo de Liebre, locais conhecidos pela reprodução das baleias cinzentas. Também nesta zona deparamo-nos com as misteriosas pinturas rupestres da Serra de San Francisco.

Los Cabos para turista ver
Mas a maior surpresa estava reservada mais para Sul, mais concretamente na região onde o Pacífico abraça o Mar de Cortéz. É aqui que se situa uma zona conhecida por Los Cabos, um corredor turístico com cerca de quarenta quilómetros, que liga as cidades de Cabo San Lucasa e San José del Cabo. O destino tem sido uma das mais fortes apostas do governo mexicano e é local chique de peregrinação para americanos endinheirados. No referido corredor sou surpreendido por um, dois, três, muitos campos de golfe. É então que informam que Los Cabos quer-se afirmar como um dos principais destinos de golfe do mundo. É fácil perceber porquê. Assistimos a um “milagre” improvável, já que o verde dos greens choca com a paisagem desértica, típica da região, pululada por cactos gigantes ao bom estilo do Oeste. Pela estrada deparamo-nos com sinais apontando para o campo de golfe Jack Nicklaus, Tom Fazio, Robert Trent Jones, II, Tom Weiskopf ou The Dye Corporation. E depois, como dizia um golfista, há sempre o risco de estar a jogar enquanto se assiste à dança de uma baleia no horizonte.


Oferta hoteleira
Quanto a hotéis a qualidade e diversidade impressiona. Há de tudo e literalmente para todos os gostos. No corredor turístico encontramos a oferta mais sofisticada e exclusiva, com unidades como One&Only Palmilla, Westin Regina (simplesmente fantástico!), Hilton Los Cabos, Melia Cabo Real, Dreams, Fiesta Americana ou um Sheraton Hacienda del Mar. O difícil está mesmo na escolha. Mas se esta recair em locais onde a vida nocturna é rainha, então Cabo San Lucas é o local de eleição, onde não falta um Nikki Beach situado no Hotel ME by Melia Cabo. Em San Lucas encontramos uma pequena cidade mexicana moderna e cosmopolita, onde se deve evitar a qualquer custo a praia. Não é que não seja boa, mas aqui domina o american way of life e conceitos como paz e espaço estão de todo arredados do vocabulário local. Em resumo, San Lucas é uma espécie de Cancun mais moderno e talvez até mais sofisticado mas onde só se entra com dinheiro, muito dinheiro. O melhor indicador é passear pela marina e apreciar a quantidade e dimensão dos iates aí presentes. Também, diga-se em abono da verdade, estamos na capital mundial da pesca do marlim e não há pescador no mundo que não gostasse de ter um exemplar da espécie como galardão.


Mas é fora do dito corredor artificialmente construído pelo homem, mas onde abundam todas as comodidades, que entramos em contacto com este estranho mundo. Um mundo onde somos contemplados pelo azul do mar de um lado e o inóspito deserto do outro. Não há nada, não cresce nada e o único murmúrio vem do mar bravo, que de Pacífico tem pouco. Depois é partir há descoberta, de preferência num jeep bem artilhado. Sim, que as estradas só as principais, tudo o mais nunca viu o cheiro do alcatrão. Aventurar-se pelos cerritos e descobrir praias depois de palmilhar muitos quilómetros. E quando falo de praias refiro-me a autênticos santuários de pelicanos em centenas de metros de areia fina onde não faltam oásis e riachos. Isto é a Baja Califórnia. Selvagem, quente, indomada.


A não perder

Viagem à pequena cidade de Todos Los Santos, parte da Rota dos Pueblos Mágicos. Situa-se a pouco mais de uma hora de San Lucas, rodeado de milhares de palmeiras, estamos perante um local com encantos especiais. Talvez seja devido à diversidade de galerias de arte, à variedade de restaurantes, às lojas de gostos refinados ou aos hotéis boutique… mas há ali qualquer coisa que não nos deixa indiferente. Em Todos os Santos impera um ambiente chill-out e a cidade esta pejada de turistas. Percebe-se porquê. É aqui que se encontra o Hotel Califórnia, imortalizado pelos Eagles, onde, como rezava a canção, “se pode encontrar um quarto em qualquer altura do ano”. Bem, isso foi antes. Agora o difícil é fazer uma reserva…

Búzios encantados


Ruben Obadia


Búzios, ou mais correctamente Armação de Búzios, tem algo de familiar para o português que pela primeira vez a visita. Para começar pela escala de construção, uma vez que os edifícios não ultrapassam os dois andares, com um estilo arquitectónico próprio onde predomina a utilização de materiais rústicos. Depois, em Búzios tudo começa e acaba em torno da Rua das Pedras, onde se encontra várias lojas de roupa de marca, artesanato e restaurantes cuja qualidade ombreia com o que de melhor o Brasil tem para oferecer.


Situada a 165 quilómetros do Rio de Janeiro, na Região dos Lagos, e fazendo fronteira com a cidade de Cabo Frio, Búzios é uma península com 8 quilómetros de extensão e mais de duas dezenas de praias. Mas não é no número de praias que reside um dos encantos da região, mas mais pela sua variedade. De um lado a península é banhada pelas correntes marítimas do Equador e do outro pelas águas geladas do Pólo Sul. Assim, existe praticamente uma praia ao gosto de qualquer tipo de turista. Desde a mais isolada e de difícil acesso reservada à prática do nudismo, como é o caso da Olho-de-Boi; às mais pequenas como a Ferradurinha ou Azedinha; a cosmopolita João Fernandes ou a mais badalada Geribá, onde o surf é rei e senhor. A dificuldade mesmo vai ser na escolha.

Porto de Corsários
Por volta do século XVII, Búzios era porto de abrigo de corsários e piratas, que a utilizavam para contrabandear pau-brasil e vender escravos. Ainda nesse século, e como resultado de batalhas sangrentas, os franceses foram expulsos da região, tendo daí resultado a quase extinção da população indígena – os índios Tupinambás. No final desse século o lugarejo de Búzios era constituído por apenas 20 habitações.
Só no início do século XX é que a vila começa a assistir novamente a alguma movimentação, com a chegada de imigrantes portugueses que, juntamente com a população local de pescadores, introduziram novas técnicas de pesca. Foi neste período que foi construída uma estrutura para capturar baleias – Armação de Baleias -, tendo dado origem ao nome da própria vila: Armação de Búzios. Os ossos das baleias capturadas eram então enterrados na praia ao lado da Praia da Armação, tendo estado na origem do seu nome: Praia dos Ossos.
Mas só nos anos 50 é que Búzios começou a despertar lentamente para o turismo, tornando-se local de férias da elite carioca e paulista que ali começaram a construir casas. No entanto, o mundo ficou a conhecer Búzios quando, em 1964, a conhecida modelo francesa Brigitte Bardot escolheu o local para passar um mês de férias. Desde aí Búzios entrou no mapa e não mais saiu dele. A fama foi tanta que mereceu mesmo uma estátua da estrela, sentada em cima de uma mala, a contemplar o mar… na Orla Bardot!

O que fazer?
Actualmente, mais de quatro décadas passadas de tão ilustre visita, Búzios mantém a sua aura intacta. Desenvolveu-se o suficiente. Cresceu mas não desmesuradamente. Os encantos estão lá todos. Assistir ao pôr-do-sol na Praia da Armação ou no porto de madeira ali construído, e que serve de ponto de partida para as inúmeras excursões de barco, é uma experiência inolvidável. O mar vira prata rendilhada, onde sobressaem as cores alegres dos caícos (barcos a remos). Depois é só seguir pela Orla Bardot até à Rua das Pedras, lentamente, sem pressas. Comer bem não será o último dos seus problemas, tal a qualidade e diversidade da oferta existente. Enumerá-los era incorrer no grave pecado de esquecer um bom prato, mas há desde tailandeses a italianos ou franceses. O difícil mesmo será encontrar um restaurante de comida típica…brasileira.


Quanto à noite propriamente dita, adivinhe onde tudo se passa? Pois é… na Rua das Pedras, para não variar. No Conversa Fiada pode observar quem passa na rua, no Zapata vai viajar até ao México, no Anexo’s Bar mergulho no moderno estilo lounge, para música ao vivo tem o Pátio Havana, o Chez Michou serve-lhe uns crepes quando a fome já aperta e se quer mesmo gastar energias até de manhã o “point” é a discoteca Privilege.


Quanto a alojamento, Búzios mantém-se fiel às suas origens. A excepção vai para o Hotel Atlântico Convention & Resort, que dispõe de 135 apartamentos. Mas na cidade e arredores quem mais ordena são as Pousadas de Charme (umas com mais charme que outras). Destaque para o Casas Brancas Boutique Hotel e Spa, um pequeno paraíso de 32 quartos e o Ville La Plage Pousada & Resort, na Praia João Fernandes. Mais para o interior, escondido no meio da vegetação surge o elegante La Foret. Estas duas últimas pousadas tem a curiosidade de terem como proprietário um português rendido aos encantos de Búzios.


Mas Búzios é assim mesmo. O difícil mesmo é resistir-lhe. E quando na hora da partida, uma parte de nós passa a sentir-se Buziano ou no mínimo… a invejá-los.

Um paraíso Para... ty!


Ruben Obadia

Reza a lenda que quando Deus estava a distribuir as terras do mundo, o Diabo veio reclamar a sua parte. Sem saber bem o que fazer, Deus apontou para o primeiro pedaço de terra que avistou ao longe, escondido entre a terra e o mar, e disse: “Lá, aquilo é para ti.” O facto deu origem a uma confusão no céu que terá estado na origem da expulsão do Diabo e da sua legião de seguidores para o Inferno. E para não se rebaixar, o dito rejeitou o presente, dando então a ideia a Deus de criar no local um pequeno pedaço do Paraíso”. A história da origem do nome de Paraty é contada pelos locais com visível orgulho. No entanto, há explicação bem mais simples (e lógica) para a denominação do pequeno município brasileiro do sul do estado do Rio de Janeiro: o nome vem do tupi Peixe Branco.

Situado a meio caminho entre o Rio de Janeiro e São Paulo, o município de Paraty conta actualmente com pouco mais de 30 mil habitantes, situando-se na Baía da Ilha Grande. A história da cidade confunde-se com a própria história de descoberta do Brasil, sendo local de entrada de expedições de aprisionamento de escravos índios, local de passagem do ouro transportado de Minas Gerais no séc. XVIII e, mais tarde, porta de entrada clandestina de escravos no Brasil. Mais tarde, já no século XIX surge o Ciclo do Café e com ele a cidade vira-se para a produção de aguardente, chegando a ter cerca de 200 destilarias. Por isso é que ainda hoje Paraty é sinónimo de boa pinga. O facto foi até imortalizado pela famosa Cármen Miranda que cantou: “Vestiu uma camisa listrada e saiu por ai em vez de toma chá com torrada bebeu Paraty.”


Findo este período a cidade entra em decadência, ficando votada ao abandono durante quase um século. Curiosamente, o sucesso de Paraty fica em dever-se em muito a este abandono, uma vez que manteve intacto o centro histórico da cidade, marcadamente colonial. Nos anos 60 do século passado é reconhecida como Património Histórico e Artístico Nacional.

O centro histórico é ordenado geometricamente, dominado por casarios pintados de branco com faixas rosa ou azuis pintadas, onde sobressaem estranhos símbolos, em torno de janelas de guilhotina, remetendo os visitantes para os tempos coloniais, como se de um cenário de filme se tratasse. Mas toda esta organização e mesmo os tais símbolos como a estrela de David ou de Salomão, a lua minguante ou crescente, entre outros, é atribuída à maçonaria, já que Paraty foi sede de uma loja maçónica denominada União e Beleza.

Mas voltemos ao centro da cidade, onde é proibida a entrada de veículos, e nas ruas impera a pedra escura irregular. E é tão irregular que se atribui ao piso a principal razão para os paratienses raramente cumprimentarem alguém quando se cruzam na rua, é que estão demasiado ocupados a olhar para o chão para não caírem.

Actualmente o centro de Paraty é dominado por inúmeras pousadas de charme, óptimos restaurantes e lojas de artesanato, onde os artistas fazem os seus trabalhos à vista dos transeuntes.

Mas para lá do interesse histórico da cidade, Paraty é dominada pela sua baía recortada, numa extensão litoral de 180 quilómetros, dando origem a várias enseadas, penínsulas e ilhas, 55 ao todo. Já a sul encontra-se a vila de Trindade, um local de pescadores, mas dominado por praias dignas de um postal. A curta viagem vale a pena, apesar de no caminho atravessar um morro com o elucidativo nome de Deus-me-livre. Espera-o a Praia Brava, onde não falta uma fonte de água doce, segue-se a Praia do Cepilho, a de Fora e a dos Codois, terminando na paradisíaca Praia do Cachadaço.

De volta à baía pululada por inúmeras ilhas os cenários são tantos e tão diversos que aconselha-se um passeio de barco. E um dia não chega. Aconselha-se uma paragem na Ilha do Catimbau, onde um único restaurante assente nas pedras proporciona uma experiência memorável.
E por falar em experiências, nada como beber uma cerveja gelada no Café Paraty, local de famosos, almoçar no Margarida Café, tomar a pinga Maria Isabel, um belíssimo alambique situado à beira mar, percorrer o antigo Caminho do Ouro, e fechar a tarde com um retemperador mergulho numa das inúmeras cachoeiras da região.


De facto, quem hoje visita Paraty agradece ao Diabo não ter reclamado o local para ele.

Marraquexe, o império dos sentidos


Ruben Obadia*


“Que pena que já não possas ver mais

as muralhas vermelhas de Marraquexe

e a multidão que ao teu lado caminha

na porta de Essaouira


Que pena que já não vejas

as jacarandás, as roseiras, as buganvílias dos jardins

que não oiças o som da água nas fontes

que não escutes o silêncio dos pátios

que não vejas as estrelas nos terraços


Que pena que já não possas alisar com a mão

os azulejos do Palácio Bahia

Que pena que não vejas todas as coisas que amávamos

que não caminhes, não sintas, não te percas

em Marraquexe - a mais bela das cidades do Sul."


O poema foi encontrado escrito em berbere numa tábua de madeira num quarto de um antigo riad e ilustra bem as paixões que Marraquexe desperta. Apesar de tudo, quem a visita pela primeira vez, estranha-a, acha-a ameaçadora. Com o passar dos dias, o sentimento inicial vai-se esbatendo à medida que nos vamos familiarizando com uma cidade que vive em aparente anarquia e disso faz gala. Á medida que nos perdemos no interior da Medina, por entre um labiríntico emaranhado de ruelas e becos, apanhamos o pulso o pulso à capital do Sul de Marrocos. Depois há o cheiro das especiarias sempre presente, as cores que misturam o azul berbere com o verde marroquino, os sons dos burros que passam ou dos negociantes em plena actividade, o olhar fugidio das marroquinas que passam escondidas por detrás do véu.Marraquexe é muito mais que isto. É uma cidade de fusão, onde se assiste a sinais evidentes de concessão ao ocidente sem nunca perder de vista a sua identidade. O tradicional convive bem com a sofisticação, novas discotecas, restaurantes e hotéis de charme abrem a um ritmo frenético e emprestam-lhe uma atmosfera cosmopolita.


Há também ali algo das “mil e uma noites”, de misterioso, que nos remete para um autêntico cenário lendário, onde passamos a ser intervenientes por direito próprio.
A cidade começou a tomar forma no século XI e começou por um imenso palmeiral, conhecido por Palmeraie, e que hoje alberga condomínios de luxo e mansões das arábias. Curiosamente, reza a lenda que o fundador da cidade, Youssef ben Tachfine, e os seus soldados, ali estabeleceram um acampamento, alimentando-se de tâmaras oriundas do Atlas. Os caroços eram cuspidos para o chão e, deste acto involuntário, terão brotado milhares de palmeiras que ainda hoje ali perduram. E foi graças às palmeiras que Marraquexe floresceu, já que o extenso oásis que ali nasceu acabou por atrair as inúmeras caravanas de camelos do Sul.A cidade tem uma cor inconfundível, vermelha, a que se deve o seu cognome de Cité Rouge. Elemento distintivo é a extensa muralha (com 12 kms) que a custo tenta conter o rebuliço da Medina. É neste local aliás que estão concentrados a maioria dos monumentos de Marraquexe.

O esplendor da Djemaa el-Fna
O melhor conselho a dar a quem pretende visitar pela primeira vez a cidade é começar pela majestosa praça Djemaa el-Fna, bem no centro da medina. Assistir ao pôr do sol em plena Djemaa, sentado no terraço de um dos inúmeros cafés que circundam a praça enquanto bebe um típico e adocicado chã verde com hortelã, é contemplar um espectáculo digno de um qualquer filme do Indiana Jones. É fácil perceber de onde veio a inspiração. No local, com uma dimensão quatro vezes maior que o nosso Terreiro do Paço, assiste-se a uma miríade de cenas e espectáculos. Dos vendedores de fruta, com destaque para as laranjas e tâmaras, a uma tenda gigante onde centenas de personagens cozinham uma variedade de iguarias onde a gordura é dona e senhora. E depois há os espectáculos, imperdíveis. Míticos encantadores de serpentes, macacos amestrados a posar para as fotos, tatuadoras de henna, malabaristas, músicos, contadores de histórias, disputas de boxe e mesmo curandeiros. Tudo tem um custo em dirhams (a moeda local, 1 € = 11 MD) e o simples apontar curioso de uma pouco ameaçadora máquina fotográfica digital pode dar direito a uma discussão interminável. A regra é: perguntar primeiro, fotografar depois.Na ponta do sudoeste da praça localiza-se a distinta mesquita Koutubla, embora a sua beleza só possa ser admirada por quem professa a religião de Maomet. A nós resta-nos olhar de fora e sonhar com o que se esconde por trás daquelas portas. Já na zona Norte da Djemaa el-Fna é possível mergulhar no absurdo mundo dos mercados, os mágicos souks. Prepare a sua paciência porque espera-o uma batalha negocial para adquirir a mais insignificante peça de artesanato local. Não há volta a dar, os marroquinos gostam de negociar e elevam a coisa ao patamar de arte teatral. Na realidade, no novelo de ruelas que vão até à imponente madrassa Ali Ibn Yusuf, antiga escola corânica, é possível encontrar de tudo e para todos os gostos. Tecidos, lenços, bijutaria, antiguidades, instrumentos musicais, ourives, são apenas alguns exemplos.Ali, ser português é vantagem ou não fossemos nós do país do “Cristiano Ronaldo e do Porto do Tariq”.Há também quem nos conheça, estranhamente, por outra característica: o de sermos o povo do sorriso!


Os monumentos obrigatórios
Entre os monumentos de visita obrigatória encontra-se a Ménara, um vasto jardim, com oliveiras centenárias, irrigado por um enorme lago, onde se encontra um elegante pavilhão construído em 1870 pelos Saadianos; o Palácio da Bahia, construído em 1880 a mando de Ba Ahmed, grande vizir do sultão; os Túmulos Saadianos, um jardim-cemitério que abriga as tumbas dos reis saadianos e suas famílias ali enterrados a partir do século XVI; o Palácio El Badi, concluído em 1603 pelo sultão Ahmed El Mansour, que é considerado uma jóia da arte islâmica. No seu tempo ganhou fama de ser um dos palácios mais belos do mundo, também conhecido como “o incomparável” e, apesar do que se observa hoje ser apenas uma parte do total, é fácil imaginar a sua magnificência. Finalmente, aconselha-se um passeio pelo Jardim Majorelle e entrada no Museu de Arte Islâmica. Em excelente estado de conservação, ao contrário de muitos dos monumentos anteriores, o jardim oferece uma inspiradora e relaxante experiência, dada a variedade de lagos, plantas e aves, assim como o edifício ícone de Jacques Majorelle, com o seu azul como marca de água. Actualmente o Jardim Majorelle é propriedade do conhecido estilista Yves Saint Laurent.O nome da estrela da moda surgir associado a Marraquexe só pode causar estranheza aos mais incautos. A realidade é que a cidade está na moda, sendo local de férias para muitos famosos de Hollywood que ali compraram casa, bem como inúmeras famílias francesas da classe média que adquiriram e recuperaram riads na cidade.Ao nível da gastronomia, o cuscuz de borrego ou de vegetais, a tangine ou a pastilla são imperdíveis mas não aconselhados para estômagos sensíveis. Os vinhos são de boa qualidade, uma herança da colonização francesa. E restaurantes de qualidade são algo que abunda em Marraquexe, desde os mais modernos aos clássicos, instalados em riads primorosamente recuperados.Também na noite, há bares e discotecas para todos os gostos, mas o destaque vai para o Pacha Marrakech, em plena avenida Mohamed VI. Para além da sua impressionante dimensão, o local, que reúne uma discoteca, um bar e três restaurantes, é da autoria do arquitecto português Miguel Câncio.


*O jornalista viajou a convite do Turismo de Marrocos

Sun City, o paraíso perdido


Ruben Obadia*


Fernando Pessoa escreveu um dia “Deus quer, o homem sonha, a obra nasce”. É certo que Sun City estava ainda longe de ser erguida mas se há local no mundo onde esta máxima faz sentido é neste resort situado a 187 kms de Joanesburgo, África do Sul.
Circundado pelas imponentes montanhas do Pilensberg, Sun City começou a nascer na década de 70 pela mão de um visionário, Sol Kerzner. O empresário afirmou um dia ser “o Indiana Jones dos negócios” e é fácil perceber porquê. O resort remete-nos para uma cidade perdida na selva, onde a atenção ao pormenor, aos pequenos detalhes, chega quase a ser uma obsessão.
A primeira unidade a ser inaugurada foi o Sun City Hotel, construído em 1979 junto ao actual campo de golfe com a assinatura de Gary Player. É aqui que se situa o casino, no seu tempo o único local na África do Sul onde era permitido jogar, e o Sun City Theatre, com 640 lugares. Dispondo de 340 quartos, todos orientados para uma piscina, este quatro estrelas disponibiliza uma variedade de bares e restaurantes, desde o Orchid, especializado em comida asiática, ao Raj, indiana, Calabash, comida sul-africana, entre outros. Quase 30 anos após a sua construção, o Sun City Hotel iniciou em 2007 um processo de renovação das suas infraestruturas, num investimento global de 21 milhões de euros que ficará concluído em Novembro deste ano. Estas mudanças fazem-se sentir não só ao nível da decoração dos quartos como também no aumento e modernização das casas de banho. Segundo Boris Bornman, director de operações do Sun City Resort, “o design está em harmonia com o verde da vegetação do exterior e a paisagem de cortar a respiração”.


Em 1982 abria o segundo hotel de Sun City, o The Cabanas, um três estrelas, situado junto a um lago, com uma vocação clara para acolher famílias. Com 380 quartos, oferece um conjunto de equipamentos concebidos a pensar nas crianças, com destaque para o Kamp Kwena Fort, um aviário que acolhe aves exóticas, uma quinta ecológica, mini-golfe, gaivotas e trampolins. Também neste caso o Cabanas foi alvo recente de uma profunda remodelação. Apesar de o lobby manter a sua decoração original, um mosaico de papagaios, peixes e flores, a intervenção fez-se sentir ao nível das habitações. Os quartos surgiram de cara lavada, apostando num design retro de estilo europeu, predominando o rosa e o verde-água. Mas se pensa que o facto de estarmos perante um três estrelas isso o diminui face aos seus ‘irmãos’ mais ostensivos, desengane-se. O Cabanas talvez seja o hotel que oferece o ambiente mais descontraído do resort e disso faz gala.


Dois anos após a abertura do Cabanas, em 1984, abria o Cascades. Ao longe assemelha-se a uma pirâmide maia. Puro engano! Estamos diante um cinco estrelas, com 243 quartos, envolto em jardins luxuriantes e que disponibiliza duas piscinas, uma delas aquecida.


Mas a verdadeira pérola estava guardada para o fim. Em 1992 nascia o The Palace of the Lost City, um ‘seis estrelas’ onde nada, mas mesmo nada foi e é deixado ao acaso. Feche os olhos e imagine uma tribo africana fluorescente, rica, imaginativa, onde o conhecimento e o respeito pela natureza fosse o seu bem mais precioso. Continue com os olhos fechados e imagine agora a sua cidade, as ruas, os jardins, os lagos, os recantos. Pode abrir agora os olhos e vai descobrir que imaginou o Palace ao pormenor. Com 338 suites, o destaque vai para as camas king-size esculpidas manualmente. O salão de chá é local obrigatório de peregrinação e o Villa del Palazzo, um restaurante que aposta na gastronomia italiana, surpreende pela inclusão no seu menu de vários pratos de caça.


* O jornalista viajou a convite da Across

Tuesday, April 14, 2009

Carnatal: o Carnaval fora de horas

Carina Monteiro*

A cidade de Natal, no Rio Grande do Norte, nordeste do Brasil, celebrou mais um Carnatal (Carnaval de Natal), o 18º. Para a maioria dos portugueses que viajam para Natal sobretudo por causa das praias, o Carnatal é ainda desconhecido. No entanto, e em números, o Carnatal é o maior Carnaval fora de época do país. Todos os anos, mais 13 milhões de pessoas, entre brasileiros e turistas, enchem as ruas da cidade para quatro dias de folia. O Carnatal celebrou-se entre os dias 4 e 7 de Dezembro e, para comemorar a maioridade do evento, desfilaram dez blocos, cada um composto, em média, por quatro mil foliões. O percurso foi o mesmo dos anos anteriores, 3800 metros de extensão, sendo 800 metros só no corredor da folia, onde ficam os 294 camarotes e as arquibancadas (com capacidade para nove mil pessoas).

Festa faz-se nos Camarotes
A festa começa cedo, às 17h os foliões começam a chegar ao recinto ou, então, como é hábito, reúnem-se em casa de alguém antes de seguirem para o Carnatal.
Quem não quis entrar nos blocos, pôde optar pelos camarotes, pagando em média 250 reais pela entrada. Dos camarotes assiste-se de perto às performances das bandas de maior sucesso da música baiana e músicos potiguares (naturais de Rio Grande do Norte) que desfilaram nos blocos. A cantora Ivete Sangalo, bem conhecida dos portugueses, foi uma das actuações deste ano. Os camarotes têm diversão para todos os gostos. Os especiais têm atracções também especiais: DJ’s, salas de Internet, lounge, comida e bebida, áreas de relaxamento, de alimentação e pistas de dança. A festa faz-se até haver energia para pular.

Natal de dia
Nesta altura do ano começa o Verão no Brasil. É por isso que o Carnatal não é o único motivo para visitar a cidade. Natal, assim como toda a região do Rio Grande do Norte, é conhecida pelo seu litoral, com quase 400 quilómetros de extensão. O melhor cartão postal de Natal são as praias paradisíacas e as dunas, as maiores do país, o que faz com que os passeios de buggy sejam a maior atracção do destino. Os passeios de buggy fazem-se em outras cidades do Brasil, como Fortaleza, mas aí é preciso andar quilómetros para encontrar dunas. A grande vantagem de Natal é que as dunas vivem paredes meias com a cidade, e só é preciso atravessar a recém construída ponte Forte-Redinha para entrar num verdadeiro parque de diversões natural. Por cerca de 75 reais por pessoa aluga-se um buggy com capacidade para quatro pessoas, com um “bugueiro” que os conduzirá por uma viagem que se quer com “extrema emoção”. Pelo meio, paragem para beber uma água de côco ou dar um mergulho nas lagoas que se formam entre as dunas.
As dunas são “o pulmão” do turismo de Natal. Foi a expressão usada por um dos bugueiros que acompanhou o grupo. No entanto, se a proximidade com a cidade é vista co­mo uma mais-valia, também pode causar alguns problemas. Como é o caso da construção desenfreada. Existem projectos imobiliários para esta zona, mas que os bu­gueiros que­rem que sejam controlados pa­ra não destruir “a atração da cidade”.

Cultura Potiguar
A alegria e a religião estão no sangue dos potiguares. É por isso que a região tem um sem número de festas, procissões, shows e eventos. Os potiguares sabem receber. E pequenas iniciativas como a de Kadmo Donato, bugueiro de profissão, que já vai na terceira edição do dicionário de “potiguês”, feito pelo próprio, são um bom exemplo de como os potiguares gostam de receber e mostrar a sua cultura aos turistas. Terra de pescadores, o nordeste tem uma cozinha rica em sa­bores vindos do mar, como é o caso do camarão, abundante na região. Comida, bebida e festa são razões de sobra para conhecer Natal. n

* A jornalista viajou a convite da TAP e da Emprotur

Holbox, refúgio de piratas


Ruben Obadia*


Perto de um dos maiores destinos turísticos do México (Cancún), a ilha de Holbox permanece desconhecida para a maioria dos turistas. E é isso que lhe confere o encanto…É um dos segredos mais bem guardados do México e não é para menos.


A ilha de Holbox é um pequeno paraíso com 43 quilómetros de comprimento e um de largura, onde impera areia branca e fina, banhada pelas plácidas águas quentes do Golfo do México.O sucesso de destinos como Cancún e Riviera Maia explicam em parte o facto de Holbox ter permanecido, até agora, longe dos holofotes da ribalta, num obscurantismo que a salvou de ser destruída pelos grandes projectos turístico-imobiliários. Holbox, é pronunciado Holbosh, já que o ‘x’ em língua Maia lê-se ‘sh’, e situa-se na ponta norte da Península do Iucatão. Depois de três horas de carro chega-se a Chinquilla, uma pequena cidade situada no continente, de onde parte o ferry para a ilha ou, em alternativa, se pode alugar um táxi-barco. Vinte minutos volvidos, após atravessar a lagoa Yalahao, eis-nos chegados ao paraíso.

Holbox tem cerca de 1600 habitantes, a maioria pescadores, e muitos deles descendentes de casamentos entre piratas, que fundaram a ilha, e Maias da região. Portanto, não espere encontrar uma aldeia sofisticada. Pelo contrário, as estradas são em areia, todas convergindo para uma praça central onde existe um campo de basquetebol, que parece ser o desporto mais popular da ilha. Carros também não há, sendo que os únicos veículos permitidos em Holbox, para além de bicicletas e motociclos, são os carrinhos de golfe.Chegar à Ilha de Holbox é como recuar no tempo até aos anos 50 ou 60. Aliás, andar de relógio é totalmente despropositado, já que o tempo deixa de fazer sentido. Não há discotecas ou bares, a caixa de multibanco mais próxima situa-se a 200 quilómetros, e apenas uma dezena de restaurantes satisfazem as necessidades dos poucos turistas que se aventuram pela ilha. Entre eles o mais conhecido é o Edelyn, pelas suas pizzas de lagosta, embora o Viva Zapata seja bem mais típico e agradável.Ao nível do alojamento as opções não são muitas mas todas são localizadas junto ao mar. E quando se lê junto ao mar, entenda-se a cinco metros da água! Nada de grandes resorts ou edifícios com mais de um andar. Apesar das limitações a ilha consegue oferecer de tudo, para todos os gostos e para todas as carteiras. Desde o chique discreto da Casa las Tortugas, com cabanas construídas de acordo com as tradições locais, as Palapas, ao Hotel Casa Sandra com um Spa holístico.

Depois de instalados começa a verdadeira aventura. E que aventura é essa? Não fazer absolutamente nada! Este é o destino ideal para quem quer fugir ao stress das grandes cidades, longe das hordes de turistas, e da tecnologia das sociedades modernas - rede de telemóvel só em alguns locais da ilha. Mas apesar de ser uma pequena ilha, Holbox é bastante heterogénea. Se do lado direito situa-se a maioria dos pequenos hotéis, o lado esquerdo surpreende pelo isolamento, onde se pode caminhar nas águas cristalinas e quentes durante mais de um quilómetro sempre com água pela cintura. Se caminhar não faz parte dos seus planos de férias a opção é alugar um pequeno carro de golfe e fazer-se à estrada. Perdão, à areia…

As actividadesde Holbox

Ao fim do segundo dia de praia é natural que seja acometido por um sentimento de pânico, tal a bonomia em que está mergulhado. E é mesmo no mergulho que está a salvação. O símbolo de Holbox bem poderia ser o tubarão-baleia - aqui conhecido por tubarão dominó -, tal a quantidade de anúncios a excursões para mergulhar junto ao maior peixe dos oceanos. A uma hora e meia de barco da ilha chega-se a um dos poucos locais no mundo onde é possível fazer snorkling junto a estes simpáticos gigantes. São às dezenas, com as suas bocas a sulcar a linha de água, em círculos lentos e estudados. E mergulhar requer alguma coragem inicial, logo ultrapassada pela emoção de nadar lado a lado com o tubarão-baleia ou ser surpreendido pela vizinhança de uma manta gigante.A ilha dos pássaros é outro dos locais a não perder. Situada a apenas meia hora de barco é, como o nome indica, um autêntico santuário de pássaros, albergando mais de 155 espécies. Ali é possível avistar flamingos, pelicanos, patos, entre muitos outros. No entanto, é estritamente proibido passear na ilha, tal a fragilidade do ecossistema, existindo alguns miradouros e passadiços em madeira onde os amantes de ‘bird watching’ podem tirar a barriga da miséria.Outra ilha a merecer uma visita é a Ilha da Paixão, a cerca de 15 minutos de barco da ilha-mãe. O nome já diz tudo e é só imaginar uma pequena ilha deserta de areias brancas, a sombra de palmeiras, e o barulho melodioso dos inúmeros pássaros, únicos habitantes do local. Os amantes da pesca encontram também em Holbox uma resposta às suas preces, sendo usual assistir à exposição dos troféus - barracudas, garoupas, entre outras espécies - na pequena doca de madeira da ilha.Enfim, a ilha de Holbox pode muito bem ser o local de férias preguiçosas ou, num abrir e fechar de olhos, ser o local ideal para quem procura desportos de mar e aventura. Mas para quem deseja um pacote mais completo, o conselho é combinar Holbox com Riviera Maya, de onde poderá partir à descoberta das ruínas de Tulum, a Sul da Praia del Cármen, ou explorar a impressionante zona arqueológica de Coba.Mas vamos por pontos. Se na chegada a Cancún se aconselha pernoitar na cidade antes de partir à descoberta de Holbox, no regresso da ilha para uns dias mais ‘civilizados’ na Riviera Maia é imperativa uma passagem por Coba.

O esplendor da Riviera Maya

A cerca de 50 quilómetros a sul do aeroporto internacional de Cancún começa verdadeiramente a Riviera Maya, com a cosmopolita Praia del Carmen, nome dado em honra da Nossa Senhora do Monte Carmelo, patrona da cidade de Cancún. Com pouco mais de 100 mil habitantes, a Praia del Carmen tem uma notória influência europeia, fruto dos muitos europeus que a escolheram para viver, e é um ponto de partida para viver as inúmeras experiências da Riviera. Quer seja para se fazer ao mar, rumo à ilha de Cozumel, num dos muitos barcos que partem a toda a hora do porto de Calica, quer para simplesmente usufruir das inúmeras praias onde a areia branca e o mar azul-turquesa domina. Mas é a partir do fim da tarde que a Praia del Carmen surpreende os recém-chegados, já que é a altura em que tanto locais como turistas confluem para a Quinta Avenida e avenidas paralelas. Aqui é possível ouvir desde americano a norueguês, passando pelo russo, o espanhol ou mesmo o japonês. E é ver a infinidade de lojas de grife, de pequenas bancas onde o artesanato domina, ou da oferta gastronómica pronta a satisfazer todos os apetites e bolsas. E por falar em comida, o destaque vai inteirinho para o restaurante Yaxche Maya Cuisine, onde se saboreiam vários pratos inspirados nas tradições culinárias dos maias, além de várias entradas baseadas na comida tradicional Yucateca.Ao nível do alojamento a oferta é verdadeiramente variada, embora a opção recaía invariavelmente nos inúmeros resorts tudo incluído que se estendem a sul até à cidade de Felipe Carrillo Puerto. A nossa escolha foi para o Grand Palladium Riviera Resort, um impressionante complexo hoteleiro situado a apenas 20 minutos da Praia del Carmen e implantado nuns impressionantes 1,2 milhões de metros quadrados. No total o resort oferece 454 quartos, dos quais 360 suites juniores, 72 suites e 22 ‘suítes maias’, seis restaurantes e um sem número de actividades. A pensar exclusivamente nos adultos, o Grand Palladium Riviera reservou uma área, a que designou “Suites Royal”, num conjunto de 130 quartos exclusivos situados à beira de um dos lagos no local.Mas se quer fugir dos grandes resorts há também hotéis de charme na própria Praia del Carmen, para além de pequenas unidades mais charmosas situadas ao longo da costa.Inevitável é visitar o Parque eco-arqueológico de Xcaret. Além dos vestígios arqueológicos, das actividades aquáticas, da riqueza da fauna e da flora, é possível assistir a um espectáculo (acompanhado de jantar) em que o espectador experimenta toda a riqueza cultural e folclórica do México. Se ainda sobrar tempo, um salto a Xel-Ha, um verdadeiro aquário a céu aberto, é também uma experiência inolvidável.E já em tempo de contagem decrescente para regressar, uma manhã de experiências no Rancho Punta Venado é certamente a cereja no topo do bolo.


* O Publituris agradece ao Grupo Orizonia Portugal, à Oficina de Turismo do México e à Fideicomiso de Promocion Turística de la Riviera Maya

Encontro de culturas em Istambul


Fátima Valente*

As comparações com Lisboa são inevitáveis. Ele é a luz branca inconfundível, o casario que se estende até ao Bósforo, ou uma das pontes que o atravessa que bem podia ser a 25 de Abril. São as sete colinas e os sons dos eléctricos; é a sensação de se estar longe e em casa... afinal estamos na Europa e na Ásia

A entrada da Turquia na União Europeia ainda é uma incógnita e não parece tirar o sono aos cerca de 12 milhões de habitantes de Istambul, até porque, antes disso, em 2010, a cidade será capital da cultura. Mas a palavra integração é algo que não precisa de se ouvir nas ruas, basta olhar-se à volta para se perceber que aquela que já não é a capital do país (foi-o no tempo do Império Otomano, Império Romano do Oriente e desde a fundação da República até 1923), continua a ser a capital do multiculturalismo.

Séculos e séculos de história testemunham a convivência e as marcas alternadas de muçulmanos e minorias de cristãos e judeus. E as mesquitas, igrejas e palácios antigos dos sultões estão lá para o confirmar.

Com um legado arquitectónico de que poucas cidades se podem orgulhar, às vezes opulente, às vezes exuberante, Istambul, ou Bizâncio e Constantinopla, (conforme a sucessão dos impérios), exibe a beleza postal dos minaretes mas também as estátuas de Atatürk. A imagem do fundador da República (1923), conhecido co­mo o pai da Turquia, está um pou­co por toda a cidade e remete para o conceito de modernidade que o mesmo procurou instituir. Resultado? O conjunto sai a ganhar e o contraste é ainda mais apetecível.


Cosmopolita e tradicional

A vida na cidade corre sem sobressaltos, apenas interrompida pelo chamamento da oração, cinco vezes ao dia. A segurança reina e a sensação que se tem é a de um kebab cultural.

Os bairros têm identidades muito próprias, e vão desde os mais cosmopolitas (Beyoglu, com a conhecida praça de Taksim), aos mais tradicionais e turísticos como Sultanahmet. Este é habitualmente descrito como o coração da cidade antiga, e é aqui que ficam os grandes monumentos classificados pela UNESCO, co­mo a Mesquita Azul ou a Igreja de Santa Sofia, o Hipódromo ou o Palácio de Topkapi, a mais emblemática residência dos sultões, com vista para o Corno de Ouro, o Bósforo e o Mar de Mármara.

E até os bazares, à parte o elemento comum dos cheiros, cores e fácil desorientação geográfica e de sentidos, parecem desempenhar pa­péis distintos e complementares. O Grande Bazar é o maior e mais turístico (até nos preços), e ponto de visita obrigatório para quem se quer emaranhar nas mais de 3.000 lojas. Já o Bazar Egípcio ou Mercado das Especiarias funciona um pouco como mercado alternativo, onde os locais preferem fazer as suas compras mas os viajantes também são bem-vindos.

Falta do que fazer é coisa que os turistas não terão em Istambul. Passeios culturais, andar de eléctrico, tomar um chá de maçã, comer um kebab de carneiro, ou até optar por um banho turco, tudo são opções viáveis. Um passeio de ferry no Estreito do Bósforo, para um contacto mais directo com as duas margens - a Europa e a Ásia - é algo que também deve ser feito. O passeio dura aproximadamente uma hora (durante o Inverno, aconselha-se o interior do ferry) e passa em revista mansões otomanas,(algumas pa­ra cima de meio milhão de dólares), palácios transformados em hotéis de charme, escolas e universidades, assim como alguns bares e esplanadas.

A experiência não ficará completa sem um espectáculo de dança do ventre. Este tipo de animação faz parte da oferta de alguns restaurantes, como na zona do mercado do peixe de Galatasaray, ou na Torre de Gálata (no bairro de Beyoglu), com uma vista de 360º graus sobre a cidade a partir dos seus esguios 61 metros. Neste caso, aconselha-se a reserva antecipada, sobretudo para grupos, dadas as limitações de espaço.

*A Jornalista viajou a convite da Pacha Tours


Pacha Tours

Programação à partida de Lisboa, Porto e Faro

Istambul é dos principais destinos da Pacha Tours, em voos Turkish Airways. O operador tem vários programas para esta cidade, incluindo pacotes combinados que a ligam a outras regiões da Turquia e países vizinhos. Assim, estão em comercialização o circuito “Tesouros da Turquia” (10 noites, com partida de Lisboa às quintas-feiras); “O Este da Turquia” (14 noites, com partidas de Lisboa à sexta-feira); “Toda a Turquia” (14 noites - partidas de Lisboa e Porto às quintas e sextas-feiras); “Istambul + Capadócia (7 noites, partidas de Porto e Lisboa aos domingos); “Tuquirama” (7 noites, partida de Lisboa, Porto e Faro aos domingos); “Maravilhas da Turquia (7 noites, partida de Lisboa às terças-feiras); “Porta do Oriente” (9 noites, partidas de Lisboa, Porto e Faro aos domingos); “À descoberta do Iémen” (9 noites, partidas de Lisboa, Porto e Faro aos domingos); e “À descoberta do Uzbequistão” (11 noites).
TravelTips



Istambul

A cidade tem um parque hoteleiro bastante diversificado. Desde a versão B&B, menos difundida no mercado português, ao hotel de charme, Istambul ostenta várias marcas de renome - do Ritz ao Intercontinental e Kempinski - com unidades recentemente inauguradas e novas em perspectiva.

A gastronomia é rica, sendo o kebab de carneiro uma das especialidades turcas. Destacam-se também o “haidari” (iogurte com alho), o “borek” (prato à base de endíveas), o “açik pide” (uma espécie de pizza).Tudo deve ser acompanhado por um sonoro brinde que o mesmo é dizer ‘serefe’, e no final rematado com uns “Baklava” (pequenos bolos feitos à base de mel e frutos secos).

O trânsito é uma das características da cidade. Sem grande congestionamento, a distância percorrida entre o aeroporto e o centro da cidade é de aproximadamente meia hora ou 45 minutos.

As principais atracções turísticas estão na margem europeia. A maioria da população vive do lado asiático e trabalha no lado europeu.

Disneyland Resort Paris: O sonho aqui ao lado


Rita Sevilha*


Dormir num castelo, visitar a cidade luz e privar com as personagens do universo Disney foi o desafio lançado ao Publituris pela Eleva. A operadora turística deu a conhecer como pode ser o dia-a-dia de um cliente final no reino da fantasia

Foi pela “mão” da Eleva que o Publituris entrou no mundo da Disney e se perdeu entre a ficção e a realidade. Com o objectivo de dar a conhecer os hóteis associados da Disney com os quais trabalha e ainda como pode ser o dia-a-dia dos clientes da operadora turística na Disneyland Resort Paris, a Eleva convidou o Publituris a entrar pela porta onde os sonhos se tornam reais. O jornal apresenta-lhe o reino da fantasia. À semelhança do que acontece com um cliente Eleva, foi pelos transportes oficiais, que circulam desde as seis da manhã à meia-noite e que passam com frequência pelos hotéis, que chegámos à Disney. Em vésperas do pontapé de saída do “Mickey Magical Party” [que começou a 4 de Abril], eram notórios os preparativos daquela que prometia ser uma festa de arromba. A diversão está em todos os lados e é para todas as idades, desde as montanhas-russas mais arrojadas, aos divertimentos mais calmos, há-de tudo, sempre acompanhado de cenários surreais onde as personagens dos mais conhecidos filmes e histórias não faltam. Durante o tempo de estadia nos parques o desafio é o de ser um pouco de tudo. Desde spacerider, princesa e Indiana Jones, até andar perdida no labirinto da Alice e acabar a dançar na Parada Disney com o Mickey, o Capitão Gancho ou a Branca de Neve. Aqui é a imaginação que comanda. São dois os parques de diversões: O Disneyland Park e o Walt Disney Studios (o mais recente dos dois). Ao entrar no Disneyland Park o primeiro impacto é o de estar a percorrer uma qualquer rua principal de uma cidade americana. Estamos na Main Street USA, onde não falta a velha estação de comboios a vapor.

Os parques
Ao fim da rua a tarefa é a de decidir. O parque divide-se em quatro áreas temáticas. A futurista Discoveryland, que nos leva numa viagem pela galáxia; a sonhadora Fantasyland, onde os contos de fadas e os sonhos de infância ganham contornos reais; a corajosa Adventureland, onde do Oriente às Caraíbas a adrenalina é garantida; ou a legendária Frontierland, onde a febre do ouro espreita em cada esquina. Em qualquer uma delas o divertimento está assegurado. Diversão é também o que não falta a quem quiser viajar por detrás de cenários conhecidos e descobrir a magia por detrás do cinema no Walt Disney Studios. Também este parque se subdivide em quatro. A Front Lost, uma homenagem ao melhor de Hollywood; Toon Studio, um tributo à arte da animação; Backlot, onde se entra no filme Armagedon e se é desafiado a sobreviver a uma chuva de meteoritos; ou Production Courtyard, onde é possível andar por detrás dos cenários, nos bastidores de um grande filme. A Parada Disney é um dos pontos altos da oferta. Ao som dos clássicos, todas as personagens do universo Disney desfilam, cantam e dançam, num cortejo cheio de cor, de vida e de nostalgia. Depois de encerrados os parques, a diversão continua noite dentro na Disney Village, mas desta feita, a oferta recai sobre os restaurantes, os bares e os espectáculos. Enquanto convidados da Eleva, o Publituris foi assistir ao Buffalo Bill’s Wild West Show, e teve a oportunidade de provar a gastronomia texana enquanto embarcava numa viagem ao Velho Oeste.

Oferta hoteleira
Entrar no reino da fantasia não tem de ser tarefa que envolva gastos excessivos, nomeadamente no que diz respeito a alojamento. A convite da Eleva, o Publituris visitou os hotéis associados Disney com quem a operadora turística mais trabalha, e descobriu que entre vários temas também existem conceitos para várias bolsas. E porque não visitar a Disneyland Resort Paris, ficar a pouco mais de uma hora da cidade luz, para quem sabe visitá-la, e alojada num apartamento? Esta foi uma das apostas da Eleva. Adágio é o nome dos aparthotéis que oferecem estúdios com uma capacidade de três até 10 pessoas, estando totalmente equipados, nomeadamente ao nível da cozinha, e que ficam situados num centro urbano a cerca de 15 minutos da Disney, com a vantagem de estar localizada próxima de equipamentos complementares, tal como uma galeria comercial, com lojas, restaurantes e super-mercado. Com esta oferta hoteleira, a Eleva pretendeu mostrar como se pode visitar a Disney poupando, nomeadamente nas refeições, estando o pequeno-almoço incluído na diária, e ficando alojado num regime onde os horários ficam ao critério e liberdade de cada um. Ao todo são 290 apartamentos, e o complexo compreende entre outras valências, piscina exterior. Para quem quiser ficar em regime de hotel a oferta é vasta. A opção pode ser a de ficar alojado numa quinta tradicional da região de Brie com uma vista panorâmica sobre os campos em redor, no hotel Kyriad. Ou vestir a personagem de um explorador e dormir no Thomas Cook Explorers. Aqui é possível optar por suites temáticas, e todo o hotel está pensado e decorado para surpreender os mais novos. Desde os quartos à piscina todos os detalhes foram pensados para fazer da estadia uma descoberta contínua. A opção pode ainda recair pelo principesco Dream Castle, um castelo de quatro estrelas que apresenta os diferentes períodos da história dos cavaleiros da Idade Média. Ou ainda o Magic Circus, onde a magia circense foi fonte de inspiração. Todos os hotéis ficam a cerca de oito minutos dos Parques, e, bem como os aparthoteis Adágio, contam com transporte oficial e regular para a ida e volta dos parques. Desta forma a Eleva lançou o convite a descobrir a magia da Disney e da cidade luz, dando a conhecer um programa onde diversão é palavra de ordem.
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* A jornalista viajou a convite da Eleva

Tanzânia: Jambo, jambo bwana. Hakuna matata**


Fátima Valente*

Da ponte, com as objectivas apontadas para o rio Katuma, em pleno Parque Nacional de Katavi, o grupo regista os movimentos e sons dos hipopótamos mergulhados nas águas lamacentas. Estes brincam aos submarinos e, tanto emergem da água como repuxos, como alimentam desavenças entre si, gerando brigas ao estilo National Geographic. Tudo isto sob o olhar impávido e atento dos crocodilos, que não temem em fazer-se à água, enquanto alguns “tecelões da aldeia” (pássaros) fazem ninho nas árvores das margens e os sujeitam à aprovação das fêmeas, sob pena de os terem de começar de novo. Mais adiante, girafas masai atravessam em galope gracioso à frente do jipe para, em terreno seguro, fitarem a curiosidade humana, enquanto manadas de zebras e impalas aumentam a passada perante a aproximação dos turistas. Durante o safari até ao acampamento de luxo - Palahala Camp -, (cerca de uma hora sem contar com o tempo do pequenique do almoço, de preferência debaixo de uma acácia ou outra árvore centenária), há ainda tempo para encontros imediatos com bandos de babuínos e para medir território com os bufálos especados na linha do horizonte. Pelo meio, fica a memória de um elefante perdido dos seus, e a sensação de sermos os últimos a ver um certo waterbuck (antílope) com vida.

As cenas da vida selvagem ilustram as emoções possíveis no Parque Nacional de Katavi, em Fevereiro, o último mês da estação seca, que vai de Maio a Outubro e de meados de Dezembro a Fevereiro. Janeiro/ Fevereiro é a época ideal para quem quer assistir às migrações, por norma turistas mais experimentados em safaris e já com outros parques no currículo, tanto na Tanzânia (o Serengeti é o maior de todos), como nos vizinhos Quénia e África do Sul. Mas para quem vai decidido a ter uma “cat experience” e não quer passar sem ver leões, o melhor é reservar a visita a Katavi de Julho a Outubro. Setembro é também uma boa altura para ver crocodilos e hipopótamos, já que na estação quente, o abaixamento do nível das águas faz com que se concentrem em áreas mais reduzidas. Ainda assim, a água é um elemento abundante no parque, pois além do Rio Katuma, o parque tem dois lagos - o Katavi, a Norte, e o Chada a Sul -, o que faz com que atraia uma considerável soma de aves exóticas (cerca de 400 espécies), a somar aos 35 espécies de mamíferos que ali habitam.

Katavi é o terceiro maior parque da Tanzânia (2,253 km²) e segundo reza a lenda foi buscar o nome a um grande caçador “Katabi”, que até hoje terá o seu espírito numa árvore. Este parque nacional foi criado em 1974 e apesar de continuar a ser um dos “segredos mais bem escondidos de África”, tem crescido bastante nas últimas duas décadas, ocupando mais do dobro da área inicial. Mas ao contrário de outros, densamente povoados de turistas, Katavi permite uma exploração sossegada, sem grande corrupio de jipes a disputar o ângulo mais próximo dos bichos.

A exclusividade é o grande argumento de venda de Katavi, que em 2008 contou menos de 2000 visitantes, quando comparados com os 200 mil do Serengeti. Aliás, o pouco tráfego de Katavi faz com que seja possível sair dos trilhos, em busca dos animais, algo bastante mais condicionado noutros parques.


Exclusividade e luxo

O acesso a Katavi não é dos mais imediatos, mas também é isso que o torna mais exclusivo. A chegada por via terrestre é possível, mas não a melhor opção já que demoraria dias. A mais acertada são mesmo os charters privados, programados de acordo com a conveniência e horários dos grupos. Do Aeroporto de Arusha, o voo doméstico demora uma média de três horas, incluindo paragem para abastecimento de combustível no Aeroporto de Tabora, quando a lotação do avião (12 lugares) vai quase esgotada.

O dia começa cedo, com o pequeno-almoço no Arusha Hotel a antecipar duas viagens, primeiro de autocarro, da cidade até ao aeroporto com o mesmo nome, depois num Cessna 208B da Zantas Air até ao mato. À espera do grupo, na Ikuu Airstrip (pista de aterragem na savana, perto do Posto de Rangers de Ikuu), estava Tom Litgow, director da empresa de safaris Firelight Expeditions e do Palahala Camp, assim como de Lupita, a ilha que serviria mais tarde de descanso aos três dias no mato.

O Palahala Camp, com cerca de um hectar em campo aberto, é um dos quatro alojamentos do Parque de Katavi, que no total tem capacidade para 72 pessoas. Com oito tendas e capacidade para 16 pessoas, é mais selvagem do que alguns lodges noutros parques mais conhecidos, mas igualmente confortável. Na verdade, tem tudo o que um turista de safari pode esperar no mato: luz de gerador e tomadas a pedido (apenas no ‘backstage’ do acampamento); banho a horas certas para não perder a água quente (pré-aquecida num bidão); café da manhã em room service, a anteceder o pequeno-almoço em grupo; e serviço de escolta, de e para a tenda, antes e depois do jantar, não vá um animal mais afoito querer vir atrapalhar o convívio.

No Palahala, a imaginação é o limite e as surpresas uma constante, podendo variar entre conduzir os turistas a um pôr-de-sol com “bar aberto” em pleno rio - remate perfeito de um safari a pé escoltado por rangers -, a pô-los a cozer o próprio pão do jantar. A graça está em entrar na brincadeira, mesmo quando o resultado varia entre “o cru e o quase sempre queimado”.



Lupita, o descanso merecido

Não há mato que sempre dure nem savana que nunca acabe. A expressão não é das mais felizes, mas serve para ilustrar o bem que soube chegar a Lupita, uma ilha transformada em lodge em pleno Lago Tanganica, o segundo maior de África, partilhado por uns quantos países (Tanzânia, Congo, Burundi e Zâmbia) e, já agora, uma raridade da natureza, pois os seus 1400 metros de fundo e localização tropical, fazem das águas “fósseis” ou “sem oxigénio”. Em vez de salgada a água do lago é doce, e potável, ao ponto de poder beber-se.

Para Tom Litgow, aventureiro que se deixou contagiar pelo turismo há alguns anos, “foi amor à primeira vista”. O empresário já acampava nas margens do lago há muitos anos até que certa vez sobrevoou a ilha de helicóptero, tirou muitas fotos, e dali até pôr o projecto de pé (idealizado em conjunto com a mulher, Belinda), foi só o tempo de arranjar investidor.

O Lupita Island Lake Tanganyka, com 13 bungallows, abriu em Setembro de 2007. O projecto tem particularidades, como o de dar emprego aos locais e apoiar na construção de escolas nas povoações mais próximas, como Kipili, onde a pesca é a actividade de subsistência dominante. Aliás, segundo informação do empresário, este terá investido três vezes mais (não se sabe ao certo quanto) em Lupita e Katavi do que o Produto Nacional Bruto da região (Rukwa).
A chegada a Lupita faz-se de lancha, após aterragem em Kipili. O serviço no lodge é pautado por um luxo ainda mais extremo do que o de Katavi, com direito a um mordomo por bungallow. E ao contrário das tendas da savana, estes já são de pedra e madeira, embora as divisões primem pela ausência de portas e janelas e número de paredes incerto. A ideia (conseguida) é permitir uma vista desimpedida sobre a varanda (onde ficam a banheira e o tanque individual), o arvoredo cerrado e o Lago Tanganica.

Nos quartos, as boas-vindas são dadas por uma garrafa de vinho tinto e um xerez acolhedor, bastante útil nas manhãs de chuva tropical, enquanto se faz uso das colunas de Ipod à disposição dos hóspedes. Os caprichos servem-se à medida, com possibilidade de refeição nos chalés, sempre que o propósito da estada é uma lua-de-mel, ou simplesmente por­que apetece.

Spa, ginásio e piscina exterior são outros mimos comuns no Lupita Island Lake Tanganyka. O terreno é escarpado e as distâncias entre bungallows e áreas comuns grandes, mas as mesmas podem ser encurtadas com recurso aos buggies ou com a perseverança de uma caminhada.
Das actividades possíveis constam ainda programas de caiaque ou snorkeling no lago, ou uma volta à ilha no Winsor, o barco recentemente adquirido pela família, que acumulou histórias e peripécias no transporte para a ilha. Já em terra firme, as opções variam entre os passeios de bicicleta e a pé, e a observação das fauna e flora, com respectiva explicação por um conhecedor local. Fica ainda a informação que as plantas medicinais são em abundância e que, segundo os antigos, tanto podem tratar problemas de gengivas como substituir o viagra. Perante a indecisão, o turista pode também optar pelas leituras na biblioteca (alimentada pelo sistema de troca de livros entre turistas) ou simplesmente deixar-se ficar pelo bar.

Da ilha de Lupita, o grupo seguiu viagem para Zanzibar. Mas as aventuras na ilha das especiarias ficam para uma próxima edição.

* O título é a letra de uma música em suaíli. A tradução para o português é: “Olá, Olá senhor. Não há problema”.
** A jornalista viajou a convite da Across e da Air France/ KLM



Tanzânia
País de contrastes

Pensa-se na Tanzânia e de imediato vem-nos à memória o Monte Kilimanjaro, a ideia do berço da humanidade e, claro, os safaris, a vida selvagem e a natureza no seu estado puro, onde o cartão de visita são os big five: leão, leopardo, elefante, búfalo e rinoceronte.

Antes de se fazer a viagem, a Tanzânia é isto. No regresso, é isto e muito mais. É o país da diversidade étnica e cultural, com 127 tribos (a Masai a mais conhecida de todas, e a maior com menos de dois milhões de pessoas); a nação jovem, que no século XX trocou o jugo da Alemanha pelo da Inglaterra e que só em 1964 conheceu a independência, quando da união de Tanganica e Zanzibar.

Tanzânia é sinónimo de terra que sabe receber, onde as gentes, locais e de fora - alguns vieram das escolas de hotelaria do Quénia (de Nairobi, por exemplo) -, não poupam nos sorrisos nem nos cumprimentos (Jambo), e onde se dá o devido valor aos prazeres simples da vida como um pôr-do-sol ou uma noite estrelada igualmente intensa.


TravelTips
Guia prático

O inglês e o suaíli são as línguas oficiais, e o xelim da Tanzânia a moeda local (1 € é igual a 85 xelims). A entrada no país implica passaporte válido por seis meses e visto (obtido à chegada ao aeroporto por 50 dólares). Na preparação da viagem é obrigatória a vacina da febre amarela e aconselhável a profilaxia da malária.

Aconselha-se roupa prática e leve, e calçado fechado e confortável.

No Norte da Tanzânia, perto da Garganta de Olduvai, foram descobertos fósseis humanos com mais de dois milhões de anos, sendo a área conhecida como berço da humanidade. O Monte Kilimanjaro - a montanha mais alta de África, com 5895 metros de altitude - e o Monte Meru (com 4.565 metros), são os dois grandes cartões de visita.

O país tem vindo a emergir para o Turismo (actualmente é a segunda actividade económica), e o número de visitantes nos parques tem aumentado. Mas o país não está imune à crise económica, e o presidente Jakaya Kikwete já avançou (na última conferência do FMI em Dar Es Salem) que as entradas de turistas podem decrescer até 18%.

Arusha é a terceira cidade mais populosa da Tanzânia, a seguir a Dar es Salam e à capital administrativa (Dodoma), e destaca-se pela indústria mineira e agricultura (de que são exemplo as plantações de milho e café) subsidiada pelos programas de ajuda internacional. A cidade em si não tem grande interesse turístico, à parte ter alguma hotelaria nova e de referência, e ser o ponto de distribuição de safaris para os parques e reservas do Norte da Tanzânia. Sede do Tribunal Penal Internacional, Arusha tem feito a actualidade internacional dos últimos tempos, desde que está a decorrer o julgamento do genocídio no Ruanda.

Não há voos directos para a Tanzânia, fazendo-se sempre escala numa capital europeia, nomeadamente Amesterdão. É habitual fazer-se a viagem via Nairobi (Quénia) com destino ao Aeroporto Internacional de Kilimanjaro. A Air France/ KLM tem voos diários, fazendo a ligação em code-share com a Kenyan Airways e a Precison Air (nos voos internos).

*A jornalista viajou a convite da Across e Air France
** O título é a letra de uma música em suaíli. A tradução em português é: "Olá, Olá senhor. Não há problema".